A Menina e O Mel

    A criança sempre conversou com seu 'Mel' - ursinho que havia ganho de seus pais, antes de perdê-los de vista. E dialogava sobre tudo, segredos jamais revelados, pensamentos não tão belos, anseios de quem desenvolve-se aprendendo a sbreviver longe do dengo das asas paternas.
    As confidências a 'Mel' levadas, sob seus pêlos sintéticos calavam-se. Só que a criança, como nós, é vítima do relógio. Cresce. Retira de si a docilidade das fantasias.
    Desta maneira, num belo dia de maio, aniversário da infante em decadência, aconchegou-se nos braços do ursinho, deslanchando palavras e pesares:
    - Sozinha! É o que sou. Nem sei o porquê desta minha esperança. Toda vez a mesma história: um bando de gente que nem conheço, da escola que mal freqüento, sempre fechada nesta casa de meus tios. Há 03 anos eles me deixaram. Quanta Raiva!!
    Abafado nos esmurros que, eventualmente, cedia a Mel, ouve-se:
    - Ai!
    - O quê? Ahn?
    - Bate forte para alguém tão magrinha! Machucou minha pata.
    - Mel?!
    - Quem mais seria?!
    - Mas... Mas... Como você...
    - Fala? Vou ter que lhe explicar novamente?! - Capta o ar na busca pela paciência - Bom, pela enésima vez, esta não é a primeira ocasião em que nos falamos. Costumávamos passar horas a fio divagando. Consolei-a quando perdeu seu primeiro dente, daquela vez que furtaram sua bicicleta e até quando brigou com sua tia por que ela tinha colocado-me no baú de brinquedos.
    - Impossível! Não lembro de nada disto. - Suspira, bate o pé, morde os lábios - Tô louca, é isso!
    - De novo - insiste com um tom de irritação na voz macia de brinquedo - Não se lembra disto pois está deixando de ser pequena. "Este Maldito tempo!" - resmunga pra si - E com isto, não mais precisa de minha atenção. Simplesmente esquece.
    - Não necessito de você? Mentira. Preciso mais do qe nunca. Vai me abandonar, igual a todo mundo. Todo mundo me...
    - Peraí, guria! Quem a abandonou? Seus pais? Eles não tiveram escolha. Seus tios que a tratam como filha? Ou seria eu o vilão da história? Estou aqui, não estou?
    - Mas vai embora. - Chorosa.
    - Só vou quando não mais quiser-me.
    - Então, não vai ir embora nunca!
    Riu-se o urso marrom:
    - 10, 09, 08, 07, ...
    Um supetão na porta e:
    - Que está fazendo aí?
    A menina encara o urso com um vazio, uma tristeza, no fundo da cena. Não compreendeu a razão de tanta sentimentalidade.
    - Não está muito velha pra brincar com esse bicho?
    - Tô mesmo, né tia?!
    Larga-o e sai. Mel, por sua vez, arruma-se no travesseiro:
    - É, a infância escapa rápido. Leva a inocência do crer e traz o crescimento para os olhos. Pôxa, sempre a mesma coisa. Ô nostalgia minha!

    Confira o texto também no RECANTO DAS LETRAS.



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    Anaïs Nin

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