O Ano

    Janeiro


    Voz no vento,
    Bem reconheço.
    Eram sons opacos,
    Ainda trêmulos do calor diurno,
    Ainda teimosos pelo entardecer alaranjado,
    Ainda tristes pelo anoitecer vindouro.
    Eram notas lançadas ao tempo.
    Voz fraca no tempo.
    Voz de vento.
    Voz de princípio.
    Voz de criança.



    Fevereiro



    Plumas e paetês compõem o figurino.
    Não é de artista.
    Não é de poeta.
    É de Artista-Poeta.
    É de sambista.
    Pé pra frente.
    Muito gingado.
    Apronta-se para a Sapucaí.
    Tirinteia o pandeiro.
    Abre-alas determina o início de mais um espetáculo.
    Uma explosão de cores.
    Lá vem o artista-poeta.
    Lá vem o sambista.
                                                              
    Março



    Nem tento escrever como Tom
    Ou cantar como Elis.
    Março é deles.
    Das águas correntes,
    Da promessa de vida ao coração.
    É pau.
    É pedra.
    É o fim do caminho.
    Do caminho do verão.
    É a mudança deles.
    O março é do Tom,
    É da Elis.
    É das águas que encerram o verão.



    Abril



    Chocolates.
    Ovos de Chocolates.
    Coelhinho da páscoa.
    Ressurreição de Cristo.
    Sentença da Eterna Salvação
    Ou festa para uma boa colheita?
    Abril é páscoa.
    Seja como for,
    Pelo mais doce –
    Ou de chocolates,
    Ou de fé –
    A vida fica.



    Maio



    Marcha nupcial,
    Marcar A data no mês das noivas.
    Música emocionada,
    Marcar data para o dia das mães.
    Marcha para luta,
    Marcar data pra o dia dos trabalhadores.
    Música conclusiva,
    Marcar a marca do Mês de Maio.
    Marcar o M do mês mais mister de batalhas diárias
    – Maternidade, casamento, trabalho –
    Marcar o m de maio em nossos cotidianos.



    Junho



    “Olha a cobra!” – Grita a sinhazinha.
    “Olha a ponte!” – Berra o Sinhozinho.
    “Olha Junho!” – Esperneia a meninada.
    “Quanta Festa!” – Exclama a moçada.
    Tem pipoca e pinhão.
    Tem quindim e quentão.
    Batata-doce e ‘minduim’.
    Não falta é ‘arraiá’.
    Nem casamento caipira.
    Toca um forró ‘arretado’.
    Em junho não falta alegria.
    É festa de São João (Santo Antônio também).
    “Olha a Festa Junina!” – Canta Humanidade.



     Julho



    Quero o frio,
    A neve que nunca cai,
    As férias com gosto de morango.
    Quero o descanso serrano.
    O café da colônia.
    O cheiro de sopa quentinha.
    O cheiro de lenha.
    Quero o inverno Juliano.
    O abraço forte para aquecer.
    Quero eu e você.
    E talvez uma lareira.



    Agosto



    Um novo sabor povoa o ar.
    Uma lua mais que cheia.
    Um mistério a nunca desvendar.
    Uivos de lobisomem,
    No mês do cachorro louco.
    Trazidos pelo ar anunciatório,
    Arcanos de uma sexta-feira treze.



    Setembro
    Primaveril liberdade.
    Agridoces sensações.
    Agridoce realidade.
    Num vai e vem de acontecimentos,
    Eis que meu “bem ou mal-me-quer” já se transformou em “livres ou dominados”.
    Diante das comemorações floridas,
    Não consigo compreender:
    Como se pode louvar o que ainda esta para acontecer?



    Outubro



    Quem não gosta de algodão-doce?
    Quem não adora pique - esconde?
    Quem não ama ser criança?
    Caindo na lama como se a bronca nunca viesse.
    Rindo quando não se devia,
    E ainda assim encantando.
    Acreditando talvez em fadas,
    Talvez em Papai Noel,
    Talvez em si mesmas,
    Talvez no mundo.
    Quem não desejaria sentir novamente esta mágica sensação de vida?
    Mas quem disse que não podemos?



    Novembro



    Já sinto o cheiro de verão pousar na minha cútis ansiosa.
    Falta um mês para lhe reencontrar,
    E retomar nossa paixão de onde estacionamos verão passado.
    Quase terminando as aulas.
    Quase final de ano.
    Quase férias.
    Quase Natal.
    Quase praia.
    Quase festas.
    Quase que me esqueço do mês mais apreensivo do ano.



    Dezembro



    Eis que a voz no vento recomeça a soar no infinito particular das recordações.
    Mais um ano que toma seu rumo,
    E nos conduz a um caminho talvez novo,
    Talvez nem tanto,
    Do amanhã.
    Só depois do Natal nos damos conta que está chegando à hora da despedida.
    E ainda que amemos o sabor da esperança vindoura,
    Pesa a nostalgia no coração. 


    Confira o texto também no RECANTO DAS LETRAS.



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    Anaïs Nin

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